O lançamento de Black Myth: Wukong em agosto de 2024 foi um marco na indústria de jogos chinesa. Desenvolvido pelo estúdio Game Science, o jogo atingiu um pico de 2,4 milhões de jogadores simultâneos e se tornou o game de maior receita em vários mercados durante aquele mês. Baseado na renomada novela chinesa "Jornada ao Oeste", Black Myth: Wukong é uma exceção notável no panorama dos jogos chineses, sendo um título single-player disponível apenas para PC e PlayStation 5, contrastando com a predominância de jogos free-to-play advindos do país.
Crescimento da indústria de jogos na China
O mercado de jogos na China está em expansão, com estimativas da Niko Partners indicando um crescimento do número de consumidores, indo de 715,9 milhões em 2023 para 747,9 milhões até 2028. A receita anual projetada para este ano é de aproximadamente 49,8 bilhões de dólares, com a maioria (68,7%) proveniente de jogos móveis, seguidos por PC (28,4%) e consoles (2,9%).
Perspectivas da cultura chinesa em jogos globais
O sucesso de Black Myth: Wukong levantou questões sobre a importância de apresentar a cultura chinesa para um público global. Steven Wu, ex-chefe do Tencent's NEXT Studio Shenzhen e agora à frente da Emina Studio, acredita que jogos como este incentivam uma visão mais ampla e realista do país.
Simon Zhu, fundador da China Independent Game Alliance (CIGA), observa que a integração de elementos culturais chineses de maneira natural pode atrair interesse internacional. Black Myth: Wukong é um grande exemplo de como um jogo bem elaborado pode integrar conteúdo cultural de uma maneira que ressoa naturalmente. Jingwei 'Biaoge' Fang, da Spark Nexa e produtor de Shenzhou Saga: Three Kingdoms, reforça a importância de destacar as tradições chinesas nos jogos, afirmando que a equipe pretende promover essa rica bagagem através de suas criações.
Desafios do mercado ocidental
Para os desenvolvedores chineses, penetrar no mercado ocidental apresenta seus próprios obstáculos. Wu menciona a necessidade de entender políticas de plataforma, construir conexões com a mídia, localização e sistemas de pagamento. Zhu acrescenta que a falta de experiência acumulada na China para o desenvolvimento de jogos para PC e consoles, bem como a compreensão das preferências e comportamentos dos usuários ocidentais, são barreiras significativas.
Há uma percepção de que jogos orientais podem adotar influências europeias para serem mais acessíveis ao público ocidental. Wu opina que essa integração pode ser mais uma questão de apreço mútuo entre culturas do que um esforço deliberado para captar audiências específicas. Zhu e Fang concordam que a troca cultural global permite uma flexibilidade maior na adaptação de elementos culturais nos jogos, citando exemplos como Ghost of Tsushima e Sifu.
Mecânica de gacha e modelos de negócio
A mecânica de gacha, comum em jogos free-to-play, é outro ponto de discussão. Wu enfatiza a importância da sustentabilidade e respeito ao consumidor, enquanto Zhu explica que títulos como Genshin Impact e Wuthering Waves atraem demografias específicas que têm uma conexão emocional com os personagens. Fang sugere que seja adotado um equilíbrio, onde a mecânica de gacha deva atender às expectativas dos jogadores que pagam, sem que os mesmos dependam exclusivamente da sorte.
Black Myth: Wukong não é apenas um sucesso comercial: ele representa uma ponte cultural e uma possível mudança de paradigma na indústria de jogos global. O game criou uma verdadeira "nota de corte" para os jogos AAA, e nós consumidores aguardamos ansiosamente por novos títulos de tamanha qualidade e profundidade. Que os desenvolvedores ocidentais aprendam e tentem se inspirar nesse modelo que, indiscutivelmente, teve muito êxito.
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