No panteão dos simuladores de combate aéreo, a série Ace Combat sempre ocupou um lugar de destaque por sua jogabilidade arcade refinada e suas narrativas épicas ambientadas no mundo fictício de Strangereal. No entanto, em 2011, a Project Aces decidiu arriscar tudo. Com Ace Combat: Assault Horizon, o estúdio tentou criar um "reboot" para a franquia, mirando em um público totalmente novo: os fãs de Call of Duty. O resultado foi um dos jogos mais visualmente espetaculares e comercialmente bem-sucedidos da série, mas também o mais controverso e, para muitos, a "ovelha negra" da família.
A busca pelo público ocidental
No final dos anos 2000, a franquia Call of Duty, especialmente com o sucesso de Modern Warfare, dominava o cenário dos jogos de ação. A Bandai Namco e a Project Aces viram nisso uma oportunidade. A diretriz para o desenvolvimento de Assault Horizon foi clara: tornar Ace Combat mais acessível, cinematográfico e palatável para o mercado ocidental. Para isso, duas decisões drásticas foram tomadas. A primeira foi abandonar o amado universo de Strangereal, com suas super-armas e nações fictícias, em favor de um cenário no mundo real, com batalhas em locais como Miami, Dubai e Moscou. A segunda foi reinventar a jogabilidade.
O polêmico "Dogfight Mode" (DFM)
A maior e mais controversa mudança de Assault Horizon foi a introdução do sistema "Close-Range Assault" (CRA), apelidado de "Dogfight Mode" (DFM). Ao se aproximar de um inimigo, o jogador podia ativar uma perseguição em alta velocidade, com a câmera colada na traseira do adversário. A intenção era criar momentos cinematográficos de tirar o fôlego, com mísseis passando rente à fuselagem e destroços voando por toda a tela.
Visualmente, era um espetáculo. Na prática, porém, o sistema foi duramente criticado por ser, essencialmente, "on-rails". Ele tirava o controle fino da aeronave das mãos do jogador, transformando a arte do dogfight em uma sequência de "quick time events" simplificada. Muitos veteranos sentiram que a liberdade e a habilidade, marcas registradas da série, haviam sido sacrificadas em nome de uma experiência mais roteirizada e "hollywoodiana". Além disso, o jogo incluiu missões a bordo de helicópteros de ataque e até como artilheiro de um AC-130, inspirações diretas de Modern Warfare.
Lançamento e recepção crítica
Lançado em outubro de 2011, Assault Horizon teve uma recepção crítica geralmente positiva, mas não unânime. As notas no Metacritic ficaram na casa dos 77-78 (6.1 para o público), com a crítica elogiando a intensidade, a ação cinematográfica e os gráficos impressionantes. No entanto, muitos apontaram a repetitividade do DFM e uma história genérica, que não chegava aos pés das tramas políticas complexas dos jogos anteriores.
Se a crítica foi morna, a reação da base de fãs foi polarizada, tendendo ao negativo. A comunidade hardcore de Ace Combat lamentou profundamente o abandono de Strangereal e a simplificação da jogabilidade. O jogo vendeu bem, ultrapassando um milhão de cópias, o que prova que a estratégia de atrair um novo público funcionou comercialmente. Contudo, o custo foi a alienação de seus fãs mais leais.
Uma lição aprendida
Ace Combat: Assault Horizon é um experimento interessante. Ele provou que era possível criar um jogo de combate aéreo com o apelo de um blockbuster de ação. No entanto, também ensinou à Project Aces uma lição valiosa: a identidade de uma franquia é seu bem mais precioso. O "fracasso" de crítica entre os fãs foi tão retumbante que, após um longo hiato, a série retornou em 2019 com Ace Combat 7: Skies Unknown, um jogo que era, em todos os sentidos, um retorno triunfal às raízes de Strangereal, sendo aclamado como um dos melhores da saga. Assault Horizon permanece como um capítulo único e controverso, um lembrete do que acontece quando uma série tenta ser algo que não é.
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