Poucos jogos carregam uma bagagem de desenvolvimento tão pesada quanto The Bureau: XCOM Declassified. O que chegou às lojas em 2013 era a sombra de um projeto que passou por um verdadeiro inferno de produção, mudando de nome, gênero e conceito múltiplas vezes. Anunciado originalmente como um FPS tático, o jogo da 2K Marin tentou se equilibrar entre a ação de Mass Effect e a herança estratégica de XCOM, mas acabou se tornando um exemplo clássico de um jogo com uma crise de identidade fatal.

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O inferno de produção 

A jornada de The Bureau começou em 2010, quando foi revelado como um FPS chamado simplesmente "XCOM". A reação dos fãs da série de estratégia foi imediata e hostil. A ideia de transformar a amada franquia em um shooter em primeira pessoa foi vista como uma traição. A forte reação negativa forçou o estúdio a engavetar e reiniciar o projeto diversas vezes. Nesse meio tempo, um evento crucial aconteceu: a Firaxis lançou XCOM: Enemy Unknown em 2012, um sucesso estrondoso que provou como modernizar a fórmula clássica de estratégia. Isso colocou ainda mais pressão sobre o shooter da 2K Marin, que agora precisava justificar sua existência. O projeto foi, então, reformulado como um shooter tático em terceira pessoa e renomeado para The Bureau: XCOM Declassified.

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Uma estética impecável 

O maior trunfo de The Bureau é, sem dúvida, sua atmosfera. Ambientado nos anos 60, em plena Guerra Fria, o jogo exala o charme de séries como Arquivo X e Mad Men. A direção de arte é fantástica, desde os ternos impecáveis dos agentes até a tecnologia alienígena retrô. A premissa de uma agência governamental secreta combatendo a primeira invasão alienígena na Terra é muito bem executada, e a narrativa, apesar de seus problemas, possui algumas reviravoltas interessantes.

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Uma crise de identidade na jogabilidade 

O problema é que o jogo nunca decide o que quer ser. Ele tenta ser um shooter de cobertura como Gears of War, mas a ação é genérica e pouco inspirada. Ele tenta ser um RPG de esquadrão como Mass Effect, com uma roda de comandos para dar ordens aos seus agentes, mas a profundidade tática é superficial. Ele tenta ser um jogo de XCOM, mas falha em capturar a tensão e a complexidade estratégica da série principal. O resultado é uma colcha de retalhos de mecânicas que funcionam de forma isolada, mas que nunca se unem para formar um todo coeso e envolvente. O protagonista, William Carter, também sofre por ser um personagem principal clichê e sem carisma.

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Um fracasso fascinante 

The Bureau: XCOM Declassified foi um fracasso comercial e de crítica, com notas medianas na casa dos 66 no Metacritic. Ele é lembrado hoje como um fracasso fascinante, um estudo de caso sobre os perigos do "development hell" e da falta de uma visão clara. Debaixo de suas mecânicas genéricas, existe uma direção de arte brilhante e o esqueleto de uma história interessante. Infelizmente, o jogo foi esmagado pelo peso de suas próprias ambições e pela incapacidade de se decidir qual caminho seguir, tornando-se uma nota de rodapé esquecida na gloriosa história da franquia XCOM.

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