Em 2012, o mercado de jogos de tiro em terceira pessoa estava saturado. Entre hordas de "space marines" genéricos, a SEGA lançou Binary Domain, um shooter de ficção científica com uma premissa ambiciosa e uma equipe de peso por trás: o Ryu Ga Gotoku Studio, liderado por Toshihiro Nagoshi, os mesmos mestres responsáveis pela aclamada série Yakuza. O jogo tinha uma história profunda, personagens carismáticos e sistemas inovadores. Apesar de tudo isso, foi um retumbante fracasso comercial. Anos depois, no entanto, Binary Domain encontrou seu lugar ao sol, sendo hoje reverenciado como um dos maiores e mais injustiçados "clássicos cult" de sua geração.
A visão de Nagoshi
Após o sucesso de Yakuza 4, a equipe de Toshihiro Nagoshi quis provar que era capaz de criar algo que agradasse também ao público ocidental. A ideia era pegar a expertise do estúdio em criar narrativas envolventes e personagens memoráveis e aplicá-la a um gênero popular no ocidente. O resultado foi Binary Domain, um shooter ambientado em Tóquio no ano de 2080, onde uma força-tarefa internacional investiga uma empresa de robótica suspeita de criar androides que acreditam ser humanos, os "Hollow Children". A inspiração em obras como Blade Runner e Eu, Robô era clara, prometendo uma trama cheia de reviravoltas filosóficas.
Curiosidades e sistemas inovadores
O que diferenciava Binary Domain de seus concorrentes era o "Sistema de Consequências". A confiança de seus companheiros de esquadrão mudava dinamicamente com base em suas ações no campo de batalha e em suas respostas nos diálogos. Um esquadrão que confiava em você era mais eficiente, seguia suas ordens e até mesmo oferecia dicas. Um esquadrão desconfiado podia ignorá-lo ou agir por conta própria. Esse sistema influenciava o desenrolar da história e até mesmo o final do jogo.
Além disso, o jogo contava com um sistema de comandos de voz via headset, permitindo ao jogador dar ordens diretas à equipe. Embora inovador, o sistema era notoriamente impreciso e muitas vezes frustrante. Outro destaque era o dano procedural nos inimigos robóticos, que se despedaçavam de forma realista e satisfatória a cada tiro.
O fracasso comercial
Apesar de suas qualidades, Binary Domain foi um fracasso de vendas. A crítica foi morna, com notas no Metacritic na casa dos 68-72 (8.1 para os usuários, e já vamos entender isso). A maioria elogiava a história e as ideias ambiciosas, mas criticava a jogabilidade de tiro, considerada genérica, e os problemas técnicos, como os comandos de voz.
O principal culpado, no entanto, foi o marketing da SEGA. O jogo foi promovido como apenas mais um shooter de ficção científica, com um protagonista (Dan Marshall) que parecia saído do manual do "herói ocidental genérico". A campanha de marketing falhou em destacar o que tornava o jogo especial: sua narrativa no estilo Yakuza, seus personagens carismáticos (especialmente o inesquecível parceiro Big Bo) e seu sistema de confiança. Em um mercado lotado, ele simplesmente não se destacou.
A redenção como clássico cult
O tempo foi generoso com Binary Domain. Anos após seu lançamento, jogadores que o descobriram em promoções ou por recomendação se depararam com uma joia escondida. A história, que explora temas de humanidade e consciência, foi amplamente elogiada como uma das melhores do gênero. O carisma dos personagens e a dinâmica do esquadrão, marcas registradas do estúdio de Yakuza, finalmente receberam o devido reconhecimento. Hoje, Binary Domain é um exemplo clássico de um ótimo jogo que foi vítima do marketing errado e do timing ruim, um verdadeiro clássico cult que merecia muito mais.
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