Durante décadas, a franquia Total War reinou absoluta no universo dos jogos de estratégia histórica, conquistando milhões de jogadores com suas representações fiéis de conflitos reais e civilizações antigas. Porém, em 2016, a Creative Assembly decidiu fazer uma aposta que muitos consideravam arriscada demais: abandonar temporariamente as legiões romanas e os samurais japoneses para abraçar um mundo povoado por orcs sanguinários, anões teimosos e dragões imponentes.
A união entre a profundidade tática característica de Total War e o universo sombrio e rico de Warhammer Fantasy Battle, criado pela Games Workshop, era um sonho antigo compartilhado tanto por desenvolvedores quanto por fãs dedicados. A Creative Assembly abraçou completamente esse desafio monumental, prometendo uma trilogia épica e interconectada. Cada título funcionaria como uma experiência completa e independente, mas todos se uniriam eventualmente para formar um mapa-múndi colossal e verdadeiramente unificado, uma promessa que se mostraria ainda mais ambiciosa do que inicialmente imaginado.
A maior revolução trazida pela saga Warhammer foi a introdução radical da assimetria entre facções, algo completamente inédito na franquia até então. Enquanto nos jogos históricos anteriores as diferentes nações possuíam unidades e características culturais distintas, no fundo todas funcionavam seguindo mecânicas relativamente similares e previsíveis. Em Warhammer, a natureza fantástica do universo permitiu uma diversidade jamais vista anteriormente. Os anões se caracterizam por sua lentidão natural e postura defensiva, compensadas por artilharia devastadoramente poderosa. Os Condes Vampiro operam sem qualquer unidade de longo alcance, dependendo exclusivamente de hordas intermináveis de mortos-vivos e criaturas aterrorizantes. Os Skaven vivem covardemente em cidades subterrâneas elaboradas, espalhando corrupção e pestilência por onde passam.
Esta diversidade radical foi ainda mais amplificada com a introdução revolucionária de lordes lendários carismáticos, sistemas complexos de magia e unidades voadoras impressionantes. Os generais se tornaram heróis épicos genuinamente capazes de dizimar exércitos inteiros lutando sozinhos. Magos poderosos passaram a invocar cometas flamejantes e tempestades mágicas para esmagar completamente as linhas inimigas organizadas. Dragões majestosos e grifos imponentes começaram a dominar os céus dos campos de batalha, adicionando uma dimensão tática verticalmente complexa. A fantasia finalmente libertou a criatividade natural da Creative Assembly de uma forma absolutamente espetacular.
O primeiro Total War: Warhammer, lançado em 2016, serviu como uma prova de conceito extremamente bem-sucedida, focando especificamente no Velho Mundo clássico e apresentando quatro raças principais cuidadosamente desenvolvidas. O jogo se tornou um sucesso estrondoso imediato, vendendo impressionantes 500 mil cópias em apenas três dias, estabelecendo um novo recorde de velocidade de vendas para toda a franquia Total War. Total War: Warhammer II, lançado em 2017, expandiu dramaticamente o mapa jogável para incluir o misterioso Novo Mundo, introduzindo raças completamente inéditas e uma campanha narrativa amplamente aclamada pela crítica especializada.
Total War: Warhammer III, que chegou ao mercado em 2022, concluiu oficialmente a saga épica introduzindo as temíveis forças do Caos e o exótico reino oriental de Cathay. Embora tenha fechado a trilogia de forma satisfatória, seu lançamento inicial foi marcado por alguns problemas técnicos e decisões controversas de design na campanha principal, gerando reações mistas da comunidade dedicada de jogadores.
A verdadeira obra-prima absoluta da trilogia emergiu posteriormente na forma da campanha combinada Impérios Imortais (Immortal Empires). Lançada como um modo especial para Warhammer III, esta experiência colossal une harmoniosamente todos os mapas e facções dos três jogos principais, além de incluir o conteúdo de todos os inúmeros DLCs lançados ao longo dos anos, representando a realização completa e definitiva da promessa original ambiciosa feita pela Creative Assembly.
Atualmente, a Creative Assembly continua oferecendo suporte ativo e robusto para Total War: Warhammer III, embora o próximo DLC Tides of Torment tenha sido adiado para o final do ano. A desenvolvedora também anunciou mudanças em sua abordagem para DLCs em 2025, incluindo o fim dos controversos Blood Packs. O sucesso comercial e crítico monumental da trilogia foi tão expressivo que ela efetivamente se transformou no carro-chefe absoluto da franquia Total War, superando até mesmo os títulos históricos mais tradicionais e estabelecidos.
Total War: Warhammer transcende amplamente suas próprias fronteiras como franquia. A saga não apenas resgatou Total War de um período preocupante de estagnação criativa, mas também apresentou a fórmula de grande estratégia a milhões de novos jogadores ao redor do mundo. Provou definitivamente que elementos fantásticos como dragões majestosos, sistemas mágicos complexos e ratos humanoides apocalípticos podem tornar a experiência estratégica ainda mais envolvente e emocionalmente impactante. A trilogia estabeleceu um novo paradigma para jogos de estratégia, demonstrando que a criatividade desenfreada e a inovação técnica, quando combinadas inteligentemente com mecânicas comprovadas, podem criar experiências verdadeiramente transformadoras que redefinem completamente as expectativas de um gênero inteiro.
Postar um comentário