Qualquer pessoa que olhe a lista dos jogos mais populares da Steam nos últimos tempos se depara com uma cena bizarra. Em meio a gigantes como Counter-Strike 2 e Dota 2, surgem nomes como Banana e Bongo Cat, ostentando centenas de milhares de "jogadores" simultâneos. Mas o que são esses jogos? E por que eles estão no topo? A resposta curta é simples: o jogo não é o que você vê na tela.
À primeira vista, Banana e Bongo Cat mal podem ser chamados de jogos. A jogabilidade consiste, literalmente, em clicar em uma imagem estática — uma banana ou um gato. Não há objetivos, fases ou narrativas. São programas extremamente leves, gratuitos e que não exigem quase nada do computador para rodar. E é exatamente aí que reside o segredo de seu sucesso, pois a verdadeira ação não acontece dentro do jogo, mas sim no Mercado da Comunidade Steam.
A principal teoria, e a mais concreta, é que esses jogos são, na verdade, ferramentas para farmar itens digitais. Ao manter o jogo aberto, os jogadores recebem, em intervalos de tempo, um item aleatório em seu inventário Steam. A grande maioria desses itens (diferentes tipos de bananas ou acessórios para o gato) não vale nada, sendo vendidos por poucos centavos. No entanto, existe uma chance minúscula, como uma loteria, de receber um item raro, que pode ser vendido no mercado por dezenas, centenas ou até milhares de dólares. O "jogo", portanto, não é clicar na banana, mas sim manter o programa rodando para tentar a sorte grande.
Isso nos leva à segunda camada do fenômeno: os bots e a especulação. Uma parcela significativa desses "jogadores" não são pessoas. São contas automatizadas, ou "bots", rodando em múltiplos computadores ou máquinas virtuais com o único propósito de farmar esses itens em massa. Isso infla artificialmente os números de jogadores simultâneos, o que por sua vez gera mais visibilidade para o jogo. Além disso, o mercado desses itens é altamente especulativo, com grupos de usuários tentando manipular os preços de certos itens raros, similar ao que acontece em mercados de ações ou criptomoedas.
A popularidade desses jogos acaba criando um ciclo que se autoalimenta. A bizarrice de ver uma banana no topo dos mais jogados vira um meme, o que atrai jogadores reais que entram na onda pela piada ou para tentar a sorte. Isso aumenta ainda mais os números, que reforçam o meme e atraem mais gente. Psicologicamente, a mecânica apela para o mesmo gatilho do vício em jogos de azar: um esforço mínimo para uma recompensa potencialmente alta.
O sucesso de títulos como Bongo Cat e Banana é um retrato fascinante e estranho do estado atual dos jogos no PC. Ele representa a dissociação completa entre "número de jogadores" e "engajamento com o gameplay". O jogo em si é apenas uma fachada para um complexo ecossistema de economia virtual, especulação financeira e sorte, provando que, às vezes, a motivação para "jogar" não tem nada a ver com diversão.
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