A história da trilogia Project CARS é uma das mais fascinantes e trágicas da história recente dos jogos de corrida. O que começou como um sonho financiado pela comunidade, com a promessa de ser o simulador definitivo "feito por pilotos, para pilotos", terminou como uma sombra de si mesmo, alienando sua base de fãs e culminando no cancelamento abrupto da franquia. É uma jornada que serve como um estudo de caso sobre identidade, ambição e os perigos de se afastar de suas raízes.

Project CARS (2015): o sonho realizado 

O primeiro Project CARS nasceu de uma ideia revolucionária: um jogo de corrida financiado diretamente pelos fãs através da plataforma World of Mass Development. A Slightly Mad Studios prometeu um simulador puro, sem concessões, com uma física realista, uma vasta seleção de carros e pistas, e um modo carreira que permitia ao jogador seguir qualquer caminho no automobilismo. Lançado em 2015, o jogo foi um sucesso. A crítica elogiou sua profundidade, seus gráficos impressionantes e a sensação visceral de pilotagem. Ele se estabeleceu imediatamente como um concorrente de peso para gigantes como Gran Turismo e Forza Motorsport.

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Project CARS 2 (2017): o auge da simulação 

Se o primeiro jogo foi a promessa, Project CARS 2 foi a realização. A sequência expandiu a fórmula em todos os sentidos. O número de carros e pistas aumentou drasticamente, incluindo categorias como Rallycross e IndyCar. O sistema "LiveTrack 3.0" simulava mudanças dinâmicas de clima e de superfície da pista com um realismo sem precedentes. A física foi refinada, e o jogo foi aclamado como um dos simuladores mais completos e imersivos do mercado. Para a comunidade de simulação, Project CARS 2 era o auge, o ápice da visão original do estúdio.

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Project CARS 3 (2020): traição e queda 

Foi aqui que tudo desmoronou. Em uma tentativa de alcançar um público mais amplo e casual, a Slightly Mad Studios tomou uma decisão drástica: Project CARS 3 abandonou quase completamente suas raízes de simulação. O jogo se tornou um "sim-cade", um corredor arcade com elementos de simulação. Características amadas pelos fãs, como pit stops, desgaste de pneus e consumo de combustível, foram removidas. O foco mudou para uma progressão de "upar" carros com upgrades, em um modelo similar ao de Forza Horizon ou Need for Speed: Shift (que, ironicamente, também foi desenvolvido pelo mesmo estúdio).

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A reação da comunidade foi imediata e brutal. Os fãs que apoiaram o projeto desde o início se sentiram traídos. O jogo foi bombardeado com críticas negativas, e as vendas foram decepcionantes. Ele falhou em agradar aos fãs de simulação, que o odiaram, e não conseguiu atrair o público arcade, que já tinha opções mais estabelecidas.

A queda foi rápida. Após a recepção desastrosa de Project CARS 3, a EA, que havia adquirido a Codemasters (e, por extensão, a Slightly Mad Studios), anunciou em 2022 o cancelamento de futuros jogos da franquia. A história da trilogia Project CARS é um conto de advertência. Ela mostra como a busca por um público maior pode levar à perda da identidade que tornou uma franquia especial. Os dois primeiros jogos são lembrados como simuladores excepcionais, mas o legado da série ficará para sempre manchado pela decisão desastrosa que levou ao seu fim prematuro.

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